15. A IMACULADA CONCEIÇÃO E A ASSISTÊNCIA SOCIAL
A IMACULADA CONCEIÇÃO E A ASSISTÊNCIA SOCIAL
Existe na língua portuguesa uma palavra pequenina que, apesar de se constituir de apenas três letras, traduz o que o homem possui na sua vida terrena, de mais grandioso, de mais nobre e de mais divino.
A lembrança desse nome tão pequenino desperta em nossos corações sentimentos os mais puros e os mais profundos. Sentimentos de emoção e de felicidade. Sentimento de gratidão e de saudades.
E esta palavra, que muitas e muitas vezes os homens, com a alma de joelho pronunciam com ternura e devoção, é MÃE: pedaço do paraíso por sobre a terra, presente de Deus às criaturas. MÃE, dizem os homens de todas as idades, invocando nas suas dores e sofrimentos aquela que um dia lhe deu o ser. MÃE, dizem os cristãos nas grandes crises do espírito, pedindo e implorando em linguagem dorida e lacrimosa, amparo e proteção.
A relação do filho para com a sua mãe é, no gênero humano, algo de substancial e necessário. Para o cristão e para o vicentino que se dedica às obras de Assistência Social, é um atributo essencial na vida, sua devoção à Mãe Santíssima e à Imaculada Conceição.
Foi, por certo, compreendendo essa grande verdade que, sob o manto maternal da Virgem, se acolheram os grandes iluminados pela Igreja Católica, São Vicente de Paulo - o patrono de todas as obras de Assistência Social que existem e florescem por sobre a terra à sombra do evangelho, e ANTÔNIO FREDERICO OZANAM - o fundador das Conferências Vicentinas, esta instituição tão simples, como simples é a caridade, que se espalha pelo mundo para praticar o bem, buscando antes de tudo a santificação de seus membros.
A proteção da Excelsa Mãe de Deus sempre se manifestou de maneira eloquente para com a Sociedade de São Vicente de Paulo, muitos séculos antes de sua fundação. Já nos seus mais tenros anos, Vicente de Paulo sentia nos refolhos d'alma a voz misteriosa da Virgem Santíssima que o convocava para ser o grande benfeitor da humanidade sofredora. Era ainda criança e já aparece no seio da família, qual santuário doméstico, como filho dileto e carinhoso de Maria. Todas as manhãs, Vicente de Paulo, aquela criança pobre que desde pequeno aprendera, por necessidade a lutar para ganhar o pão de cada dia, antes de partir para pastorear as ovelhas de seu pai, ajoelhava-se diante de uma pequenina imagem da Imaculada Conceição que ele mesmo entronizara no tronco de um velho carvalho, em nicho preparado pelas: suas próprias mãos, para implorar as suas bênçãos e proteção. Depois da oração matinal, em contacto com a natureza, Vicente de Paulo partia para o trabalho, levando n'alma os influxos sublimes de fôrça sobrenatural que o levaria mais tarde às alturas luminosas da graça santificante. Eram os primeiros lampejos da sua vocação para o apostolado do bem e da verdade. Era o prenúncio do grande discípulo da Imaculada Conceição que deveria assombrar o século em que viveu. E o menino apóstolo, sob o influxo do amor filial, formou o seu coração, qual anel de ouro, onde Deus encastoara, como diamante do Céu, o amor à excelsa Rainha do Céu, da terra e do mar. Eram os golpes da graça a acutilá-lo. As culminâncias da santidade não se alcançam jamais de um só voo d'alma. São passos lentos, dolorosos, constantes, os
que costumam dar que pretendem dominar os cimos da virtude e se
entrincheirar ali de modo e inexpugnável. A visão dos santos no esplendor da glória é sempre admirável. Mas é de mais proveito para o espírito a análise dos meios pelos quais se atinge a própria glória. Já o universo no fundo do espaço se abre como imensa Bíblia, onde os astros escrevem com letras de ouro o nome de Maria.
Leitor assíduo desse grande livro da natureza deve ser o homem, supremo Rei da criação, que do trono da terra estende o seu reinado por todo o mundo. Se todo o coração sensível, se toda a alma que sabe sentir as maravilhas do universo, não pode deixar de amar a natureza, eis que ela é a síntese mais perfeita de todas as artes: arquitetura -- escultura - pintura .- música e poesia, que tem por autor DEUS, gênio incomparável artista extraordinário, que gravou indelevelmente nos homens, todas as formas do pensamento.
A esmola é preceito dos livros santos. O seu valor é por isso mesmo inestimável. Quando atendemos de boa vontade, com espírito cristão, a um pobre, praticamos a verdadeira esmola; se o socorremos, mas não de coração, exercitamos a simples esmola; se, porém, o auxiliarmos com manifesto desamor, deixamos de exercer a esmola, mesmo imperfeita, porquanto ela mais se caracteriza por ato de sensibilidade que se transforma em comiseração e grandeza d'alma. A primeira é a esmola sincera que infunde satisfação ao pobre - é acompanhada de um gesto, de uma palavra ou de olhar compassivo. A segunda é inexpressi-va, e a ela o pobre agradece simplesmente; o esmoler procura livrar-se do esmolado sem lhe prestar maior atenção; a terceira escandaliza o pobre, amargurando o benefício verifica-se quando à esmola se segue um ato descaridoso de quem a deu.
"Fazer o bem de má vontade, não é na realidade fazer o bem", diz Santo
Agostinho.
Alves Mendes, o grande orador português, exaltou a caridade, comparando-a à realeza mais adorável da terra e à joia mais benquista de Deus:
"Porque a caridade é assim. Ela não se revela apenas numa generosa ação simpática, no pão material, numa moeda qualquer, num dom; manifesta-se e traduz em todo o auxilio moral, no bom verbo e no porte, na prece, no carinho, num simples gesto, num sorriso, numa lágrima. Forte como diamante, atraente como o ímã, modesta como a violeta, meiga como a pomba, ela penetra e enleia e perfuma e abrandece os ânimos mais rudes e os desamparos mais duros. Sempre maviosa e humilde, sempre benigna e prolifera, sempre tolerante e paciente, sempre nascente e recrescente, infatigável até a heroicidade e heroica até o martírio, ela voa através dos mares da opulência, prevenindo-lhe as voragens, rompe através das sarças da pobreza, despontando-lhe os espinhos. Prova-se, prima-se, guia-se, desnuda-se, desentranha-se, sacrifica-se, ri e chora; perdoa e cala, implora e canta; vai ao cárcere, ao hospital, ao asilo, ao albergue, à escola, à oficina, à creche, aos recessos do tugúrio e aos campos da batalha, ao perto, e ao
Alves Mendes, o grande orador português, exaltou a caridade, comparando-a à realeza mais adorável da terra e à joia mais benquista de Deus:
"Porque a caridade é assim. Ela não se revela apenas numa generosa ação simpática, no pão material, numa moeda qualquer, num dom; manifesta-se e traduz em todo o auxilio moral, no bom verbo e no porte, na prece, no carinho, num simples gesto, num sorriso, numa lágrima. Forte como diamante, atraente como o ímã, modesta como a violeta, meiga como a pomba, ela penetra e enleia e perfuma e abrandece os ânimos mais rudes e os desamparos mais duros. Sempre maviosa e humilde, sempre benigna e prolifera, sempre tolerante e paciente, sempre nascente e recrescente, infatigável até a heroicidade e heroica até o martírio, ela voa através dos mares da opulência, prevenindo-lhe as voragens, rompe através das sarças da pobreza, despontando-lhe os espinhos. Prova-se, prima-se, guia-se, desnuda-se, desentranha-se, sacrifica-se, ri e chora; perdoa e cala, implora e canta; vai ao cárcere, ao hospital, ao asilo, ao albergue, à escola, à oficina, à creche, aos recessos do tugúrio e aos campos da batalha, ao perto, e ao
longe, e alenta e acaricia e cura e dá - dá do muito e dá do pouco, dá tudo quanto tem; faz tudo para todos, para salvar a todos".
E Vicente de Paulo observa que, é na caridade que se encontra o paraíso da terra assim como o do Céu.
E Vicente de Paulo observa que, é na caridade que se encontra o paraíso da terra assim como o do Céu.
Cumpre não esquecer: pedir, importa sempre em algum sacrifício. Lembremo-nos da verdade proferida pelo grande Padre Vieira: "A palavra mais dura de pronunciar e que para sair da boca uma vez se engole e afoga é "PEÇO". Por isso, quem pode dar, seja generoso e não espere pela insistência da rogativa. A felicidade consiste em dar. Ditosos os que sabem dar, pois Deus, na sua infinita sabedoria julga como se dá e não o que se dá.
São Vicente de Paulo - o Santo da Caridade - nos ensina que, todos
aqueles que se dedicam ao trabalho espinhoso e divino, nobre e patriótico de servir o pobre, através das Obras de Assistência Social, que, antes de visitá-lo, se prostrem diante do Altíssimo para reanimar e fortalecer o espírito de fé e de sacrifício. Para socorrer os desvalidos é preciso revestir-se de paciência, de ternura e de docilidade.
Diante do quadro doloroso e profundamente desolador que se apresentar ante nossos olhos, no século estonteante em que vivemos, é imprescindível e necessário que os vicentinos que queiram seguir os ensinamentos da fraternidade humana, deixados pelo patrono São Vicente de Paulo, e, praticados em toda a sua pujança por Frederico Ozanam, busquem sempre e antes de tudo, na proteção e no amparo da Imaculada Conceição, fôrça, coragem, paciência, energia e tolerância, para bem cumprir a sua missão de apóstolos da caridade.
Para alcançar um mundo melhor e bem servir à sagrada causa de
proteção ao pobre, é sumamente reconfortante para os vicentinos que se dedicam às Obras de Assistência Social, agasalhar-se sempre sob o manto azul e maternal da Imaculada Conceição, excelsa Rainha e protetora da Sociedade de São Vicente de Paulo. Sob as bênçãos da Virgem Santíssima, as instituições beneficentes que se alicerçam sob o sentimento do amor e da fraternidade humana, nascem e florescem por sobre a terra, alcançarão o seu grande e nobre ideal .-
Cfd. Antônio Luiz Traina
proteção ao pobre, é sumamente reconfortante para os vicentinos que se dedicam às Obras de Assistência Social, agasalhar-se sempre sob o manto azul e maternal da Imaculada Conceição, excelsa Rainha e protetora da Sociedade de São Vicente de Paulo. Sob as bênçãos da Virgem Santíssima, as instituições beneficentes que se alicerçam sob o sentimento do amor e da fraternidade humana, nascem e florescem por sobre a terra, alcançarão o seu grande e nobre ideal .-
Cfd. Antônio Luiz Traina
Artigo publicado na Circular Periódica do Conselho Metropolitano de São Paulo, por ocasião do 1º CENTENÁRIO DA PROCLAMAÇÃO DO DOGMA DA IMACULADA CONCEIÇÃO!
1854 - 1954.
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