9. BATAM-ME À PORTA
"Quando Deus andou no mundo,
disse a São Pedro assim:
Se não quereis pobres na porta,
Não quereis também a mim!"
Batam-me à porta os que andam lá por fora;
batam os que tiverem frio ou sede;
os que sintam saudades de um carinho;
os desprezados;
os que há muito não vêem uma flor
e encontram só poeira no caminho;
os que não amam já nem já os ama ninguém;
os esquecidos de como se sorri;
os que não tem mãe...
Batam-me à porta os Desgraçados, os que têm
os dedos calejados dos dedos ásperos da Miséria,
os que travam desordens nas tabernas
e brincam às facadas,
os que não têm abrigo nem Amigo,
os que o destino escarrou,
os que não foram crianças,
os que nasceram num bordel
e por quem passam todos sem olhar.
Batei à minha porta, Irmãos, entrai,
que eu tenho Amor para vos dar...
E se eu também bater
(que eu também choro muitas vezes, lá fora;
também amargo tristezas;
que eu também sou desgraçado)...
pois se eu bater, vinde logo depressa
abrir-me a porta; dai-me do pão que eu parti
e do Amor que vos dei...
Deixai-me estar entre vós como se fosse
um de vós, que eu também sou Desgraçado...
Ah! se eu bater (mas é preciso que eu
possa ter força ainda nas mãos),
por Deus, abri a porta, meus Irmãos
como se a casa fora nossa!...
(Anônimo)
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