3. "A MEDIAÇÃO DE MARIA"
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Já nos primeiros tempos da Igreja havia o costume de se invocar Maria. Prova disso é a oração "Sob tua proteção, ó Mãe de Deus ... ", que é, aproximadamente, do ano 200. O título de mediadora, referente a ela, começou a ser usado no século VI e tornou-se mais popular a partir do século XII.
O único mediador entre Deus e o homem é Jesus: "Ninguém vai ao Pai a não ser por mim" (Jo 14,6). É preciso estar atento, porém, ao seguinte: toda vez que usamos uma mesma palavra referindo-nos a Deus e a nós, seu sentido é totalmente diferente. Pensemos, por exemplo, na palavra "santidade". Quando afirmamos que Deus é santo e depois dizemos que Antônio de Pádua é santo, usamos a mesma palavra: santo. Mas o significado, num e noutro caso, é totalmente diferente. Deus é santo no sentido absoluto, original. Podemos até dizer que Deus é "a" santidade. Santo Antônio, ao contrário, é santo no sentido relativo, isto é, limitado e dependente. Ele participa, por um dom de Deus, da santidade divina. Jamais poderíamos dizer que Antônio de Pádua é "a" santidade. Entendendo esses diferentes usos da palavra santo, é legítimo continuar dizendo que Santo Antônio é santo.
O mesmo poderemos dizer da bondade, da misericórdia ou da perfeição ("Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito!"), referindo-se a Deus, trata-se de atributos absolutos e originais. Referindo-se a pessoas, trata-se de uma participação nos atributos divinos - participação limitada e dependente.
Assim, quando dizemos que Jesus é o mediador, que é o único mediador, entendemos essa palavra no sentido absoluto, original e exclusivo. Já quando dizemos que Maria é mediadora, essa palavra é usada no sentido relativo e subordinado, como participação na única mediação de Cristo.
É o critério que vale para todos os atributos divinos. Assim, a palavra mediadora não causa mais problemas, já que não se tira nada da mediação de Cristo, e passa a ser compreendida em seu sentido exato.
Poderemos ir além e dizer que há outros mediadores: os apóstolos, os missionários e todos os que pregam o Evangelho. São também mediadores os párocos, os catequistas, bem como os pais que educam os filhos segundo a fé cristã. Cada batizado é chamado a ser um mediador: "Sereis minhas testemunhas!" (At 1,8). E é tão importante essa mediação que o Evangelho só chegará a muitas pessoas e lugares por meio dela: "lde, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi” (Mt 28, 19-20a). "Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35). Em síntese: toda mediação está sempre subordinada e dependente da de Cristo, que é o único mediador entre nós e o Pai. Ele não perde essa prerrogativa pelo fato de deixar outros participarem de sua mediação.
A mediação de Maria é especial, tendo em vista seu lugar único no mistério de Cristo e da Igreja. Basta pensar em sua colaboração para que acontecesse a encarnação de Jesus. Mais: levou Jesus, que nela havia se encarnado, à prima Isabel e a João Batista; colocou-o nos braços de Simeão; intercedeu em Caná quando o vinho acabou.
No céu, Maria não é mediadora diante do mediador, mas nele e por ele; ela está em comunhão total com Cristo. Assim, a mediação universal de Maria, no sentido que temos hoje, nada mais é que sua maternidade universal em relação aos homens (Jo 19, 25-27). Logo, quando o povo de Deus, iluminado pelo Espírito Santo, recorre a Maria em suas necessidades, sabe que a mediação de Maria depende da única mediação de Cristo, e que todas as graças têm a mesma fonte: o Coração aberto de seu Filho.
Dom Murilo S. Ramos Krieqer
Arcebispo de Salvador, Ba.
(Publicado no Mensageiro do Coração de Jesus, maio/2001)
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