4. O DUPLO PRECEITO DA CARIDADE
O DUPLO PRECEITO DA CARIDADE
“Deus nos amou primeiro e nos mandou o seu Filho como vítima pelos nossos pecados.
Se Deus nos amou desse modo, também devemos amar-nos uns aos outros”.
Veio o Senhor, mestre da caridade, cheio de caridade, “cumprir, como foi predito, sua “palavra sobre a terra”, e mostrou que a lei e os profetas se resumem no duplo preceito do amor.
Recordai comigo, meus irmãos, quais são esses dois preceitos. É preciso que os conheçais perfeitamente; não devem vir ao vosso pensamento só quando vos lembramos, pelo contrário, nunca devem apagar-se de vossos corações. Recordai-vos sempre de que devemos amar a Deus e ao próximo: “a Deus com todo o nosso coração, com toda a nossa alma e com toda a nossa mente; e ao próximo como a nós mesmos”.
Esses dois preceitos devem sempre ser lembrados, meditados, conservados na memória, praticados, cumpridos. O amor a Deus ocupa o primeiro lugar na ordem dos preceitos, mas na ordem da execução o primeiro lugar cabe ao amor ao próximo. Pois, quem te impôs esse duplo preceito de amor não podia ordenar-te amar primeiro ao próximo e depois a Deus, mas primeiramente a Deus e depois ao próximo.
Tu, porém, que ainda não vês a Deus, merecerás vê-lo se amas o próximo; amando-o, purificas teu olhar para veres a Deus, como João diz expressamente: “Se não amas teu irmão a quem vês, como podes amar a Deus a quem não vês?”.
Ouviste o mandamento: Ama a Deus. Se me disseres: Mostra-me a quem devo amar, que responderei senão o que disse o próprio João: “Ninguém jamais viu a Deus”? E para não pensares que está absolutamente fora de teu alcance ver a Deus, o mesmo apóstolo afirma: “Deus é amor e quem permanece no amor permanece em Deus”. Ama, pois, o teu próximo e procura dentro de ti a fonte de teu amor; ali verás a Deus o quanto é possível.
Começa, portanto, por amar o próximo. “Reparte o teu pão com o faminto e recebe em tua casa o pobre sem abrigo; quando vires um nu, veste-o e não desprezes o teu irmão.
Procedendo assim, o que alcançarás? “Então a tua luz irromperá como a aurora que virá para ti depois da noite desta vida. Essa luz não conhece o despontar nem o ocaso, porque existe eternamente.
Se amas o próximo e te interessas por ele, avanças em teu caminho. Para onde caminhas senão para o Senhor Deus, a quem devemos amar com todo o coração, toda a alma e toda a mente? Ainda não chegamos junto do Senhor, mas já temos conosco o próximo. Leva então contigo aquele com quem andas, a fim de chegares àquele com quem desejas permanecer.
Santo Agostinho
Do tratado sobre o Evangelho de João
Comentários
Postar um comentário